terça-feira, 26 de maio de 2015

Outro

Passa um homem de jaqueta velha, preta, surrada pelo trabalho. Passa uma garota jovem, uniforme de ensino médio, parece feliz. Passa o malandro da região, vendendo celular barato e aquele filme pirata. Passa essa criança vendendo bala, quase sem infância nos olhos. Passa outro. E mais outro. E tanto faz.

No caminho pra onde quer que seja, só interessa o relógio. Faltam poucos minutos pro meu atraso. Não presto atenção ao caminho, aos encontros, às pessoas, aos detalhes. No centro da cidade existem tantas histórias, mas tão pouco interesse... De onde veio esse velho mané? Esse cara tocando Beatles? Essa mulher correndo com pressa? Não tenho tempo pra isso, ninguém tem!

O outro virou passagem. Outro carro, outro poste, outra loja, outro cão, outro homem. A cidade engoliu a empatia. E antes que eu perceba, outro homicídio, outro sequestro, outro suicídio. Pobre coitado, mais um que se vai. Outro.

Mas ama o outro como a ti mesmo. Ama sem sentir, sem se importar. Diz que ama, e finge uma tragédia.

sábado, 25 de outubro de 2014

Aos meus amigos que votam...

As eleições estão aí, é amanhã. Amanhã decidimos quem governará o país nos próximos 4 anos. E em meio a tanta campanha e discussões há um recado que eu gostaria de dar. Vote em Dilma, vote em Aécio, vote branco, só não deixe de dar um voto a si mesmo.

Muitos têm discutido e bradado, exaltando-se, brigando com unhas e dentes, qualificando seu candidato como aquele que vai trazer a mudança. É claro que é importante tomar uma decisão política, ainda que a de abstenção, isso identifica o homem enquanto ser completo, social, cidadão. Mas não se deixe levar pela ilusão da solução política.

Enfrentemos a realidade: os maiores problemas do Brasil não serão resolvidos por político A ou B. Direita ou Esquerda. Os maiores problemas do Brasil são a corrupção cultural, na forma do "jeitinho brasileiro", a falta de compaixão, o egoísmo, a falta de se entristecer com a tristeza alheia, se alegrar com a alegria alheia, a falta de sentimento. O maior problema do Brasil somos eu e você.

Não seja ingênuo em acreditar que os problemas do mundo serão resolvidos por um presidente. Um presidente não passa de um gestor de recursos. Eu não acredito na mudança do mundo a partir de um gestor, através de políticas nessa ou naquela direção. Isso é mera manutenção da sociedade. A mudança está nas mãos de cada um de nós. Solidariedade, honestidade, caridade, amor para com o próximo, são esses os fatores de mudança de que o mundo precisa. É necessário que cada indivíduo se importe e contamine outros.

Eu acredito que cada pessoa é capaz de construir um mundo melhor à sua volta, e acredito que a mudança interior contagia. Experimente dar um sorriso de graça, comece pequeno. Dê seu lugar no ônibus, ajude alguém a carregar as coisas, faça a coisa certa simplesmente porque é o certo, e não porque porque existe uma recompensa ou punição envolvida. Todos furam fila, todos consomem pirataria, todos dão um jeitinho de se dar bem, mas se ninguém começar a fazer o certo, nunca haverá alternativa. Faça simplesmente por você. Faça simplesmente por querer ser alguém melhor. Como disse uma vez um grande sábio indiano, seja a mudança que você quer ver no mundo.

Que comece a festa da democracia, e que vença o melhor! Chega de brigas, troca de farpas, chega de julgar quem pensa diferente. E acima de tudo, independente de quem vença, independente das direções políticas, independente de ser o futuro vermelho ou azul, que façamos um mundo melhor.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Retorno - Ideias

Oi, blog. Estou de volta. Sei que faz mais de um ano, e eu te peço desculpas. Eu jamais deveria parar de escrever, é como uma terapia pra mim. Nesse ano tantas coisas passaram pela minha cabeça, e tão poucas ficaram... é uma pena. Eu jamais deveria parar de escrever. Eu penso demais às vezes, como deixo bem claro na sua descrição. E de minhas muitas ideias, algumas são realmente boas, eu juro! Pelo menos eu gosto das que eu tirei da cabeça e pus aqui. Amo, pra ser sincero. E me arrependo de ter parado.

Já imaginou se todos escrevessem suas ideias? Tenho certeza que não só eu as tenho. Tenho certeza que há milhares de cabeças mundo afora que têm ideias lindas (a palavra certa seria "beatiful", mas deixemos de fora o estrangeirismo). Uma ideia no ônibus, outra durante a aula, e uma última no chuveiro. Milhares de ideias todos os dias, e nenhuma sobra, todas morrem. Na lombada, naquilo que vai cair na prova, e a última desce pelo ralo, triste e solitária.

Eu sei que a maior parte do que a gente pensa é besteira, não tem importância, mas não é possível que durante 365 dias, em meio ao turbilhão de pensamentos, pensamentos tristes, pensamentos esperançosos, caridosos, bobos, pensamentos sinceros, em meio a lágrimas e apatias, sorrisos e estresses, em meio a tudo isso que nós somos, não surjam ideias capazes de mudar o mundo, de vez em quando, a partir de cada um de nós. Mudar o mundo pelo menos de uma pessoa, ainda que do próprio pensante, ou de um completo estranho, que a leia no momento certo. Se apenas fosse registrada. Ideias são poderosas, mas muito frágeis, morrem com facilidade.

As consequências disso dariam uma análise e tanto, uma longa conversa com alguém mais disposto. Mas eu prometi desde o início que não faria isso com você, então fica a reflexão. Fica a ideia, e isso me deixa um sorriso.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulher? Louise

Hoje é o dia internacional da mulher. Claro que, como na maioria das datas, as pessoas não sabem o que isso significa. Esqueceram-se de hoje como esqueceram-se do Natal. Não é um dia para dizer "Parabéns, você é uma mulher!", isso não faz o menor sentido. O dia internacional da mulher é um dia de luto e de luta. Remonta da época da primeira guerra mundial e representa a batalha feminina pela igualdade de direitos e de tratamento, cuja história é eivada de sangue e suor  Claro que ninguém se importa com isso, mas todos desejam um feliz dia da mulher.

Isso não quer dizer que as mulheres não mereçam os parabéns, é claro que merecem! De um modo geral por conquistarem e virem conquistando a igualdade, que se faz cada vez mais presente (na mesma proporção que o machismo se faz idiota e caipira), e de um modo específico por, bem, é específico.

Louise, eu não vou parabenizá-la pela ausência do cromossomo Y no seu genótipo. Não vou levá-la a um jantar especial porque você possui um útero. Eu não vou fazer como todos e te abraçar e beijar por um motivo tão vazio. Elizabeth Bathory, a Condessa de Sangue, também era mulher e sinceramente não acho que ela mereça elogios. Mas eu vou fazer tudo isso por um motivo que realmente importa, vou fazer tudo isso por você ser exatamente quem você é.

Parabenizo você por esse jeito tão doce e especial, por esse sorriso envergonhado quando você pergunta "Que? :)" quando me pega admirando seu rosto e pelo modo como você me faz esquecer todos os meus problemas. Parabenizo você por ser tão forte, sendo tão frágil. Parabenizo você por dar atenção a faculdade, igreja, família, eu, e não faltar a ninguém. Parabenizo você pelas lágrimas que enfrentou e pelos risos que bradou. Parabenizo você por suportar minhas bobagens e rir como se eu fosse o Fábio Porchat. Parabenizo você por essa sua habilidade assustadora com crianças, todas a amam! Eu parabenizo você, meu amor, por você ser essa menina-mulher tão essencial pra mim.

Parabéns, meu anjo, e nunca esqueça que o que realmente importa são as suas escolhas, elas que definem você. Não se renda jamais ao determinismo e ao que os outros dizem que você é. Ao contrário, simplesmente seja. Eu apenas posso garantir que as suas escolhas hoje e quem você é hoje lhe fazem digna de aplausos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Projeto No-Posts: 30 dias sem acompanhar/atualizar o facebook


Oi, blog, não foi tão difícil. Não, sério. Qualquer um conseguiria, após perceber tudo que tem a sua disposição. No mesmo dia em que eu decidi não mais olhar as News Feed eu percebi que tudo que eu via de bom ali existia em outros sites, e com filtros de conteúdo muito melhores



No começo você fica meio perdido nos tempos que você costuma separar pra não fazer nada no facebook. Por exemplo, uma palestra que não te interessa tanto, intervalo de aulas, aqueles minutos pré-sono. Você não sabe o que fazer pra preencher o tempo, mas não porque não há o que fazer. Há muito mais o que fazer além do facebook, você só não sabe por onde começar. Ler um livro, ver um seriado, acessar algum site interessante. Não sei. E aí começa a busca pela substituição.



Serviços interessantes são descoberto, ou redescobertos. Como alguns blogs que são muito melhor visualizados longe do facebook ou outros que merecem mais o seu tempo. Eu me interessei por um serviço em particular: Filmow.com. Bom, meus amigos no facebook devem ter percebido, até que eu desativasse o serviço de compartilhamento de atividades entre o Filmow e o facebook (my fault!). Eu redescobri minha paixão pelo cinema. Descobri que eu realmente me interesso por diretores, roteirista, Oscar MR, história do cinema e toda a magia da sétima arte. E talvez esta tenha sido a maior das recompensas da minha simples decisão: deixar o facebook de lado. Cinéfilo, alegre novo cinéfilo. Vou levar isso pro resto da minha vida.

Mas a experiência não se limitou a me conceder uma nova perspectiva sobre meus interesses. Posso dizer que eu mudei. Digo isso porque eu acredito que o que somos na internet não é somente uma projeção, mas uma extensão de nós mesmos, e meu comportamento na internet foi afetado por essa experiência. Muitos sabem que eu não me calo nas redes, eu dou minha opinião, doa a quem doer. Mas, quando eu não podia comentar, por essa auto-imposição de não me manifestar por um mês, eu percebi algo simples: não vale a pena. Eu assistia à discussão calado, me segurando, depois me dava conta: passou. E nada ficou. Nada mudou. Nada valeu a pena. O desgaste, a briga, a guerra de "likes", tudo um circo. A porcaria de um circo. E eu não quero mais ser um palhaço com malabares de fogo.

Algo engraçado é que eu tive minhas recaídas pelo habito. Me peguei uma ou duas vezes rolando a News Feed, provavelmente curti uma ou duas coisas sem nem me dar conta. Mas faz parte. Eu não estou aqui com um mártir pregando a abstenção e destruição do facebook no estilo "I have a dream!". Não. Eu usei muito o facebook, como eu disse que faria. Mas pras coisas certas. Mensagens, grupos que importam pra mim, posts direcionados. E vou continuar assim. Alguns poucos posts. Alguns poucos comentários. O resto eu guardo pra mim, pros meus amigos, pra conversas em roda, ou pra uma discussão séria, que realmente tenha um propósito. Chega de "likes" pra mim.

Bom, blog, eu poderia escrever muito mais, contar minúcias sobre o que eu vivi, detalhar cada detalhe. Mas eu não quero escrever textos longos pra você, sabe, eu te amo. Não mais que eu amo minha anjinha, mas eu te amo, e não quero te aborrecer. Fica apenas minha conclusão: "A renúncia é a libertação. Não querer é poder." Livro do Desassossego, Fernando Pessoa. Talvez eu leia esse livro um dia.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Amigos, amigos. Amigos à parte.


Oi? Negócios? Não, amigos mesmo. Amigos à parte. Você vai entender. Sabe, eu não sou exatamente um cara com idade o suficiente pra ficar de saudosismo e dizendo coisas do tipo: "no meu tempo...", mas tem uma coisa que eu notei que sumiu da minha vida pela idade.

Me lembro que, quando eu era criança e adolescente, tudo, absolutamente tudo girava ao redor das minhas amizades. Isso era o mais importante em todos os lugares, em tudo que eu fazia. No colégio, as notas eram só um detalhe, o importante era fazer e manter amigos, bons amigos. Na igreja, pastores que me perdoem, mas eu não gostava de estar se lá eu não tivesse amigos. Em minha casa eu adorava levar amigos pra passar o dia, dormir; amigos esses em cujas casas eu também era bem-vindo. E era isso. Brincar, jogar papo fora, jogar video-game, gargalhar, tudo entre amigos.

Mas o tempo passou, e passou como uma lebre, pois de repente os amigos não eram tão importantes assim. Nada proposital, apenas uma necessidade, uma necessidade de toda e qualquer pessoa que cresça (a propósito, não cresça, é uma armadilha!). Acontece que no colégio, de repente, você precisa passar no vestibular, e depois você vai pra faculdade. Aí as notas valem mais do que um sorriso dos pais, elas valem um futuro, e você e todos os seus amigos acham que não é mais uma boa ideia brincar na sala de aula. Na igreja você percebe os reais motivos de estar lá, paz espiritual, gratidão, entrega. Em casa, bom, minha casa é o meu refúgio. A ideia de ter amigos aqui todos os dias não me parece mais tão apetitosa.

A questão é que a vida exige outras prioridades. A diversão, os amigos, aquilo que um dia foi tudo, agora é um complemento. Um complemento necessário, que faz toda a diferença, como o sal na comida, mas um complemento. As coisas agora precisam ser levadas a sério. Infelizmente? Talvez não. Muito se mostra melhor na "vida adulta", que eu mal comecei, e estou adorando. Mas eu confesso: morro de saudades daquele saudável desleixo e daquelas prioridades bobas.

Talvez esse seja um "problema" sem solução, talvez esse texto seja só um saudosismo desses que terminam sem algo conclusivo. Mas é bom lembrar. E sabe o que é engraçado? Eu nem me dei conta do que perdi ou quando perdi, eu só consigo lembrar. E é bom lembrar. Amanhã volto à dura realidade das minhas boas e bem-vindas responsabilidades. Ah, espera! Amanhã é feriado! Quem sabe eu não só lembre os velhos tempos, mas viva um pouquinho de novo! Ou aproveite o tempo livre pra colocar a matéria em dia.

domingo, 30 de setembro de 2012

Meu maior inimigo


Oi. Voltei. Eu não tenho nada pra escrever, mas eu tava com saudade. Aí eu decidi simplesmente escrever. Ao contrário dos outros cinco, eu não sei onde vai parar esse texto. É engraçado, às vezes a gente tem que fazer exatamente isso na vida, seguir, meter a cara e fazer. É quando a gente tem que agir, independente das dúvidas. Pode dar certo, pode dar errado, mas você agiu. Como nesse texto.

Uma vez um certo sábio disse que o maior inimigo do homem é ele próprio. Já parou pra pensar sobre isso? Quantas vezes você se derrotou? Eu já me derrotei várias vezes, e não saí vitorioso. Como se tudo estivesse a seu favor, você só precisa arregaçar as mangas e fazer, nada te impede, a não ser você. Eu detestei olhar pra mim mesmo e ver que, depois de cinco míseros textos, eu havia abandonado o blog. E tudo por causa de duas semanas sem internet. Eu não consegui voltar.

Mas a parte mais difícil de sair vitorioso dessa batalha é justamente perceber que você é o único inimigo. Esse é o segredo. Você procura incessantemente a culpa em outros lugares, outras pessoas e por fim deixa pra lá. Olhar primeiro pra si mesmo procurando a culpa é uma das maiores lições que eu aprendi e que eu poderia passar, concorde quem quiser.

No fim das contas, a batalha só é épica até que você resolve uma atitude simples: encarar a si. Perceber que você é a muralha a ser ultrapassada, e olhar pra essa muralha com raiva, com mais raiva do que contra qualquer outro inimigo. Depois você ri. Como eu fui idiota de não sentar e escrever mais um texto. Como eu fui frouxo hahahaha. :)

Viu? Funciona.